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A Fifa protege os ricos e dá migalhas aos pobres

Há poucos dias o São Paulo foi obrigado a aceitar proposta para negociar Marquinhos com o Arsenal, da Inglaterra. Se não vendesse perderia o jogador. Então num "gesto" de boa vontade do clube inglês, que quer deixar as portas abertas para futuras negociações com o tricolor, houve o acerto por 3 milhões e meio de euros (pouco mais de 18 milhões de reais), um dinheiro que impressiona numericamente, mas que para o Arsenal é um chazinho da tarde. Se esperasse o mês de junho chegar, Marquinhos poderia assinar pré-contrato com os ingleses e sairia gratuitamente no fim do seu contrato. O São Paulo nada receberia e ele poderia ganhar mais do Arsenal, que o tiraria sem custo do Morumbi.



Isso porque Marquinhos é da base de Cotia e segundo a Fifa, o primeiro contrato profissional de um atleta só pode ser assinado aos 16 anos, mas não pode ultrapassar 3 anos. A Lei Pelé permite contrato de pelo menos 5 anos. Baseado na Lei Pelé o São Paulo fez um contrato de 5 anos. Iria até 2024, mas para a Fifa não vale e o Arsenal tiraria o jogador fácil do Morumbi com ajuda da entidade maior do futebol. Para não correr risco, o São Paulo negociou o jogador enquanto ainda tinha algum direito por lei. Isso não é só problema do São Paulo. É de todo o clube formador principalmente na América do Sul e África.



A Fifa com essa imposição, que parece libertária, facilita a vida dos ricos clubes europeus num mercado que só beneficia um lado. Acho que o tempo de contrato tinha que ser definido entre as partes e não ter interferência direta da Fifa, que finge ajudar o clube formador com a tal cláusula de solidariedade que vale até os 23 anos. Essa cláusula está sendo quebrada pelos clubes ricos há muito tempo. Ela nasceu por pressão dos clubes formadores, mas já foi superada.



Os europeus contratam atletas cada vez mais jovens até para furar a lei. Os últimos anos são os mais produtivos da cláusula de solidariedade. É só fazer a conta: O Santos teve que vender Neymar para o Barcelona por uma situação muito parecida com a de Marquinhos e mesmo de Kaká, que foi do São Paulo para o Milan. Se demorasse um pouco o jogador iria embora de graça.



Neymar chegou ao Barcelona com 21 anos de idade. Os últimos dois anos de formação foi no clube catalão, que pagou míseros 17 milhões de euros pelo jogador e recebeu 222 milhões de euros do PSG quando ele saiu. O clube que ganhou dinheiro com Neymar não foi o Santos, foi o Barça, que ainda vai receber mais alguns milhões se ele for negociado pelo clube francês já que os últimos anos de sua formação foram na Espanha.



O mesmo se aplica a Vinicius Junior e Rodrygo, que no entanto, foram vendidos por uma soma boa, cerca de 40 milhões de euros, para o Real Madrid. Mas Flamengo e Santos pouco receberão de cláusula de solidariedade se forem negociados algum dia. Os clubes formadores têm prioridade, segundo a Fifa, de fazer o segundo contrato com o atleta depois dos primeiros 3 anos. Mas não funciona assim.



Se um jogador aparece bem entre 16 e 19 anos, é claro, que ele e seu agente se preparam para sair assim que terminar esse primeiro vínculo. Fica fácil, e só não aceitar a proposta do segundo contrato que estará livre de qualquer obrigação. Por isso os clubes ricos estão cada vez mais ricos e os agentes/empresários estão nadando de braçadas. Alguns tem uma conta mais polpuda que muitos clubes por aí. A lei até que tem bom espírito, mas é leonina contra os clubes "pobres" do terceiro mundo.



Enquanto não derem uma salvaguarda maior ao clube formador com possibilidade de contrato mais longo e uma porcentagem maior na cláusula de solidariedade, a situação não vai se alterar, só vai piorar. Os europeus vão continuar buscando pé de obra barato, que se tornam caros assim que pisam no Primeiro Mundo. A Europa parece ter virado Cartório Internacional do Futebol. Se não receber sua chancela não vale nada por melhor que seja em seu país. Tudo isso sob os olhares complacentes da Fifa e da Uefa.



Se eu fosse dirigente do Palmeiras estaria preocupado em relação ao garoto Endrick, que ainda nem completou 16 anos. Se continuar evoluindo como se espera será que haverá um segundo contrato com o alviverde? E o pior é que o clube nada pode fazer contra isso. É a lei dirão os legalistas, mas a lei é desonesta, amigo. Esse é o problema.



Palmeiras já viveu isso com Gabriel Jesus, que nem esquentou lugar e tem pouca história no clube. Foi vendido em 2016 por cerca de 32 milhões de euros aos 19 anos de idade. Foi até uma boa venda, mas o dinheiro foi dividido entre o clube e o empresário do jogador. É mais um caso parecido com esses outros citados. Se não fosse vendido também sairia de graça em pouco tempo. Era vender ou vender.



Outro jeito de mudar a situação é a nosso dinheiro ser tão forte quanto a moeda européia. Daí daria para competir e segurar jogadores por aqui. Como isso, por enquanto, é utopia, é melhor buscar alternativas dentro da lei, ou uma nova lei, para não ser tão prejudicado. É o que penso.










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