É uma pena que hoje eles fiquem tão pouco por aqui.
Houve um tempo, e não faz nem tanto tempo assim, que as grandes revelações do futebol brasileiro por aqui permaneciam por muitos anos. Talvez porque as informações sobre nossos craques demorassem mais para chegar ao conhecimento dos milionários clubes europeus, talvez porque as equipes do Velho Mundo não se interessassem tanto por jovens valores, talvez porque nossos clubes não precisassem tanto de dinheiro, talvez até mesmo porque o sonho de jogar na Europa não fosse o primeiro e mais importante de todas as estrelas que apareciam em nossos céus.
Não sei. Só sei que tal situação, gradativa porém constantemente, foi sendo alterada, e talentosos garotos começaram a arrumar suas malas rumo ao continente europeu cada vez mais cedo. Primeiro, com 21 anos, depois com 20, 19 e, por último, com 18. E isso porque a legislação que vigora do outro lado do Oceano não permite que menores de idade atuem profissionalmente. Se isso fosse legal por lá, podem ter certeza de que até mesmo crianças deixariam o Brasil. Mais ou menos o que acontecem com Lionel Messi, que rumou a Barcelona/ESP com apenas 13 anos.
Nos últimos dias, o Palmeiras foi mais uma vez protagonista neste assunto. O clube, que produz novos talentos com a mesma rapidez com que deles abre mão, há bem pouco tempo se desfez de nomes como Gabriel Veron, Giovanni e Danilo, dentre outros menos badalados, vendeu agora os direitos federativos de Endrick, Luís Guilherme e Estêvão (embora este último ainda não tenha sido oficializado – mas o será muito em breve, podem estar certos). A quantia arrecadada pelo atual bicampeão brasileiro com tais transações é tão astronômica que, dada a atual situação de penúria enfrentada por grande parte da população brasileiras, se torna até ofensivo informá-la.
Mais ofensiva, porém, é a falta que nomes como estes – e tantos outros, de vários clubes – farão em campo. E não me refiro apenas ao clube vendedor ou ao seu torcedor: quando meninos deixam o País tão precocemente, a síndrome do ninho vazio é sentida por todos os que amam o jogo de bola. Para piorar, a identidade de cada um deles com o futebol brasileiro cessa de forma instantânea e, aos poucos, se apaga, depois torna-se uma leve lembrança e, por fim, desaparece por completo.
Enquanto isso nós, que por aqui ficamos, nos sentimos cada vez mais órfãos de novos craques e, desta forma, buscamos ansiosamente pelo surgimento de outros deles. E ainda que muitos não o sejam, preferimos acreditar que o são, como se não percebêssemos que, ao assim agir, nada mais fazemos do que enganar a nós mesmos.
É realmente uma pena que hoje eles fiquem tão pouco por aqui.
Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 35 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os siteswww.senhorpalmeiras.com.brewww.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônicoapresentador@marciotrevisan.com.br.
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