Estamos a menos de 15 dias para o início da Copa do Catar. Mas, nas ruas, nos bares, nas esquinas, nas quebradas do mundaréu, como gostava de escrever, e de falar, o saudoso ator e dramaturgo Plínio Marcos, nada se ouve sobre a competição.
Se vivo fosse, Plínio Marcos – lembro que ele até se aventurou a ser jogador de futebol e chegou a bater uma bola no Jabaquara, de Santos, cidade onde nasceu e cresceu -, ele certamente teria muitas críticas ao futebol dos nossos dias, que virou um balcão de negócios altamente rentável, para jogadores, dirigentes, e para os técnicos também, claro.
Conto aqui um fato.
Uma vez na metade da década de 1990, entrevistei o ex-atacante Mirandinha, aquele que jogou no Palmeiras, no time que perdeu o Campeonato Paulista de 1986, para a Inter de Limeira, no Corinthians, e no Santos.
Mirandinha estava voltando do futebol japonês. Perguntei o motivo de ele ter retornado ao Brasil. Ele, para minha surpresa, disse que não quis ficar no futebol japonês por causa do Emerson Leão, que era o treinador da equipe do Japão.
“O Leão queria que eu desse metade do meu salário para ele”, acusou.
Eu era repórter do Diário Popular.
No dia seguinte à publicação da entrevista com o Mirandinha, telefonei para vários treinadores para repercutir as declarações do Mirandinha.
Liguei inclusive para o leão, que se recusou a falar.
Um dos técnicos que foram entrevistados, não vou revelar o nome dele, pois se o fizer serei processado, disse a seguinte frase: “Wladimir, você está gravando esta entrevista”? Respondi que não. Então ele, disse: “Todos os técnicos levam dinheiro dos jogadores. Mas se você disser que foi eu que falei isso, eu te processo”.
Escrevi exatamente o que ele disse.
Como faço agora.
Contei essa história para reforçar o que digo sempre. Muitos ganham dinheiro com o futebol.
Licitamente e ilicitamente.
É por essa e outras que há um silêncio sepulcral em relação ao mundial.
E olha que eu nem estou dizendo que não se vê mais por aí as ruas pintadas de verde e amarelo, de preferência com o Ordem e Progresso em realce no meio delas.
Ruas pintadas de verde e amarelo ficaram no passado.
Há décadas que a Seleção Brasileira se afastou da torcida brasileira.
Para esta copa, o time de Tite vai treinar em Turim, na Itália, antes de embarcar para a sede da competição.
Ou seja, nada de jogo de despedida em um Maracanã lotado, com os jogadores recebendo o afago de seus torcedores.
Quer prova maior de falta de compromisso e carinho pelo seu povo?
Que eu me lembre, a última vez que o brasileiro saiu de casa para mostrar o seu patriotismo em época de copa e foi pintar ruas e becos, foi em 1982.
Depois disso, não mais.
Após ser eliminada pela Itália de Paolo Rossi, restaram uma tristeza e uma desesperança profundas, que nem o tetra de 94 e o penta de 2002 foram capazes de ressuscitar.
Nesta segunda-feira, 7/11, Tite convocou a Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Catar.
Os últimos jogos da verde e amarela, como Zagallo gosta de falar, encheram os brasileiros de otimismo.
Raphinha, Antoni, Vinícius Jr, Rodrygo, todos eles com seus dribles e gols, quebraram a monotonia do time de Tite.
Neymar passou a ter ao seu lado parceiros capazes de fazer com que ele, Neymar, deixasse de ser o talento solitário da seleção de Tite.
A Neymardependência ficou no passado.
Por causa de Raphinha, Antoni, Vini Jr e Rodrygo, os brasileiros se animaram e foram para a frente da televisão esperar a convocação do nosso técnico para o mundial fora de época.
Raphinha, Antoni, Vini Jr e Rodrygo estão na lista de convocados.
Convenhamos, absurdo seria se não estivessem.
Mas na lista apareceu também o nome de Daniel Alves.
Dani Alves, como ele gosta de ser chamado, ele mesmo, que foi contratado pelo São Paulo com um salário milionário e virou uma grande decepção.
E um grande problema financeiro para o clube.
A última vez que Daniel Alves justificou a fama que tem foi na Copa América de 2019, quando o Brasil venceu a Copa América que promoveu e ele teve boas atuações.
Depois, nada que justificasse a convocação anunciada nesta segunda-feira por Tite.
Sem jogar, seu clube, o Pumas, do México, foi eliminado de uma competição local e está inativo.
Daniel Alves treina atualmente no time b do Barcelona.
O que significa que Tite vai levar para a Copa do Catar um jogador que há mais de dois meses não disputa uma competição oficial.
Tite comete o mesmo erro que cometeu em 2018, na Rússia.
Na competição em que foi desclassificado nas quartas-de-final pela Bélgica, Tite levou Fred, Douglas Costa e Renato Augusto lesionados.
Após a Copa da Rússia, Tite disse que havia aprendido com os erros.
Não é o que parece.
Ao convocar Dani Alves, Tite mostra que não aprendeu as lições da última copa.
Insistir em levar para a copa um jogador fora de ritmo de competição é chamar o torcedor brasileiro de idiota.
E de palhaço.
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