Nasci em 1952. Ou seja, em 1958 eu tinha seis anos. Dez, em 1962. Não me lembro de absolutamente nada das copas da Suécia, 58, e Chile, 62.
Os mundiais do bicampeonato do Brasil.
Da de 1966, na Inglaterra, guardo algumas lembranças.
Uma delas: Como na minha casa não havia televisão, e nem rádio, pois meu pai era evangélico e a religião não permitia estes dois “aparelhos do Diabo” em casa, eu tinha de procurar um vizinho para ver os jogos da Seleção Brasileira.
O que eu me lembro é que as imagens dos jogos no país dos Beatles só chegavam ao Brasil dois, três dias após o jogo.
É interessante.
Lembro-me perfeitamente do caminho que eu percorri para ir à casa da Dona Helena, que ficava a uns dez minutos de onde eu morava, para ver a vitória do Brasil sobre a Bulgária, por 2 a 0.
Foram dois gols de falta.
Um de Pelé e ou outro de Garrincha.
Fiquei sabendo, anos depois, que o jogo contra os gigantes búlgaros foi o último em que Pelé e Garricha atuaram juntos. E fiquei sabendo também que, juntos em campo, Pelé e Garrincha nunca foram derrotados com a camisa da verde e amarela.
A Dona Helena era de pouca conversa.
Ela sabia que eu ia à casa dela só para ver o jogo do Brasil. Não me convidava para tomar café, não conversava comigo.
Nada.
Era bem seca.
Distante.
Não gostava de conversar?
Ou, na verdade, não gostava muito de me receber na casa dela?
Nunca soube direito o que passava na cabeça da Dona Helena.
Com 14 anos de idade, eu pouco ou quase nada sabia sobre os mistérios da mente humana.
Ou do comportamento humano, sei lá.
Na verdade, até hoje pouco ou nada sei sobre este ser estranho enigmático que é o ser humano.
Veio o jogo contra Portugal.
Deste jogo não ficou nenhuma lembrança. Foi como se ele não tivesse acontecido. Só fiquei sabendo, anos depois, que o Brasil perdeu por 3 a 1, de Portugal.
Portugal era a base do Benfica, campeão europeu. Tinha Coluna, Graça, Augusto, Simões, Torres e, principalmente, Eusébio, a Pantera Negra, ou o Pelé da Europa.
Tomei conhecimento anos depois dos dois beques carniceiros, que massacraram Pelé. Vicente e Moraes bateram tanto no Rei que deu dó. No Youtube é possível ver a selvageria de Vicente e Moraes com o nosso Rei.
E tem lá também o Rei Pelé saindo do gramado amparado pelo Dr. Hilton Gosling, médico da Seleção Brasileira, e por Mário Américo, o eterno massagista da seleção.
Depois, o Brasil perdeu de novo por 3 a 1, da Hungria e voltou para a casa. Tem um vídeo na internet que mostra a Seleção Brasileira desembarcando no Aeroporto de Congonhas e o Pelé sendo entrevistado.
Na entrevista, Pelé está bem triste.
Quem o entrevistou foi o Edson “Bolinha” Cury, que era repórter de futebol na época e depois foi animador de programa de auditório na televisão.
Pelé disse a “Bolinha” que pensava em não disputar mais mundiais.
“Não tive sorte em 62 e nem agora na Inglaterra. Tem muito tempo até 1970, mas neste momento eu penso em não disputar mais nenhuma copa”, avisou o Rei.
Ainda bem que ele mudou de ideia e nos brindou com grandes atuações na Copa do México, em 1970.
Comandou o Brasil rumo ao tricampeonato mundial.
Sobre a Dona Helena, sei muito pouco.
Não sei se ela gostava de futebol.
Acho que não, pois enquanto eu fiquei lá na sala vendo o teipe de Brasil x Bulgária, ela varria o quintal.
Tenho certeza que ela nem soube que a Inglaterra foi a campeã do mundial que promoveu.
Foi uma vitória bem polêmica a dos ingleses.
Teve um gol, o de Hurst, o terceiro inglês, da vitória por 4 a 2, na prorrogação, após o 2 a 2 no tempo normal, que eu, até hoje, olhando inúmeras vezes, afirmo que a bola bateu em cima da linha do bol.
Portanto, digo, a bola não entrou, não foi gol.
O bandeirinha, era assim que o assistente do árbitro era chamado naquela época, que confirmou o gol, tinha cara de pianista austríaco.
E nunca mais quis falar sobre o assunto.
Estranho.
Muito estranho.
Mas será que a Dona Helena ficou preocupada se a bola entrou ou não?
Não, penso que a Dona Helena estava mais preocupada em varrer o quintal.
Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.
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