Goleiro Manga, um artista no Retiro. Mais uma história triste do futebol. Aos 82 anos, adoentado, ainda convalescendo de uma cirurgia renal, Manga, que foi um dos melhores goleiros da história, está se mudando para o Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, e será o primeiro ex-jogador na entidade.
Os amigos se mobilizaram em busca de uma solução para Manga, que tinha residência fixa em Guaiquil, no Equador, onde é ídolo do Barcelona, mas pela Pandemia de Coronavírus e também por problemas financeiros não conseguia voltar para casa e também disse que gostaria de viver seus últimos anos no Brasil. Daí, o ator Stepan Nercessian, que além de tudo é botafoguense e sabe que ele jogou muito por seu clube, e é presidente da Casa dos Artistas, resolveu ajuda-lo. Foi em boa hora.
Lembro mais de Manga no Internacional de Porto Alegre, bicampeão brasileiro. Depois no Operário, de Campo Grande, pegando tudo e levando o time às alturas no Campeonato Brasileiro, que tinha mais times que partidos políticos no Brasil. O lema era: "Onde a Arena vai mal mais um time no Nacional. Onde a Arena vai bem mais um time também" e nessa o Operário veio junto com dezenas de outras equipes.
Manga foi grande goleiro do Botafogo e do Nacional, do Uruguai, quando conquistou Libertadores e Mundial de Clubes. Na Seleção do Brasil barrou Gylmar, em 1966, mas foi muito mal na Copa da Inglaterra. Talvez tenha sido um dos seus poucos maus momentos no futebol, mas foi marcante. Veio a se recuperar na sequência, mas nunca mais foi cogitado para a Seleção.
Outra coisa que me lembro de Manga é que um dia estava no velho Parque Antártica, onde o Palmeiras jogava e treinava, não havia CT na época, e de repente apareceu um cara alto, com cara de areia "mijada", sério, cumprimentou a nós da imprensa que ficávamos no saguão perto dos vestiários e perguntou se Rubens Minelli, então técnico do Verdão, já tinha chegado.
Foi para os vestiários acompanhado de um segurança e saiu rapidamente. Pouco depois quando o elenco subia para treinar encontrei Minelli já nas escadarias; E, aí, seu Minelli, tudo bem? A resposta foi esclarecedora: "Você viu o Manga aí? Coitado, não está bem, foi meu goleiro no Internacional, veio me pedir dinheiro. É uma coisa muito triste" e na sequência quase atrasou o treino ao ficar nos contando já com saudades as façanhas de "Manguita" dentro e fora do campo. A vida dele não era tão regrada. Tinha problemas.
Isso foi em 1.990. Parece que as coisas só pioraram de lá para cá. Triste mesmo. Tenho certeza que seu Minelli o ajudou até porque ele voltou outras vezes com o mesmo problema. A vida às vezes é muito cruel por coincidências, ou escolhas mal feitas, e a cobrança vem forte normalmente ainda em vida. É uma judiação e um lamento por alguém que teve tanto, deu tanto e que poderia estar em situação bem melhor. Ainda bem que os amigos estão por aí para lhe estender a mão. Deus te ajude, Manga e não se esqueça que uma hora a Roleta para de rodar. Não é azar, é a vida.
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