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Foto do escritorFutebol em Rede

Há 25 anos a França atropelava o Brasil


12 de julho de 2023. Hoje faz 25 anos que o Brasil foi derrotado por 3 a 0 pela França, no Stade de France, no bairro de Saint-Dennis, nas proximidades de Paris, na final da Copa de 98.

O jogo passou para a história do futebol por causa da convulsão do Ronaldo.

Eu estava lá.

Fui um dos primeiros da equipe do Diário Popular a chegar à França.

Foi uma cobertura bastante tumultuada. Por vários motivos. As condições de trabalho eram ruins. Ficamos em um pequeno hotel de beira de estrada.

Bem longe da maioria dos jornalistas brasileiros escalados para a cobertura. Some a isso o fato de termos problemas internos na equipe, com comando dividido.

Ou seja, como em um time de futebol em crise, tínhamos de conviver com brigas internas.

Discussões bobinhas para ver quem ficava com a melhor pauta.

Um porre.

Quando percebi que o clima ruim não iria melhorar, desencanei.

Foi o melhor que fiz.

A vida seguiu.

A Seleção Brasileira não fez uma boa copa. Chegou à final aos trancos e barrancos. E também devido ao baixo nível das seleções concorrentes.

Ronaldo passou a copa toda com dores no joelho. Por causa da lesão, treinava pouco. Outro problema foi o Brasil não ter participado das eliminatórias sul americanas. Ficou fora da fase qualificatória por ter sido campeão (tetra) em 94, na decisão nos pênaltis contra a Itália.

O comando da Seleção Brasileira também tinha problemas.

E muitos.

Como ficou evidente no jogo final contra a França, aquele em que Ronaldo, que na época era chamado de Ronaldinho, entrou em campo grogue, após ter assustado a delegação na concentração no Chateau de Grande Romaine, o Castelo de Lesigny.

Foi um ataque epilético? Uma convulsão?

Até hoje não se sabe ao certo.

O Fenômeno enfrentou inúmeros problemas pessoais antes de começar a copa. Teve de lidar com brigas na família, e rumores de que a namorada na época, a atriz Suzana Verner, estaria tendo um caso com o repórter Pedro Bial.

Simples fofoca?

O fato é que Ronaldo Fenômeno assustou os jogadores e a comissão técnica da seleção ao babar e se contorcer em sua cama logo após o almoço.

A cena assustadora só não teria sido pior porque o volante César Sampaio enfiou o dedo na boca do atacante para desenrolar a sua língua.

Depois de ter sido levado à uma clínica de Paris, Ronaldo foi dado como apto para jogar pelos médicos Lídio de Toledo e Joaquim da Mata.

O técnico Zagallo teria perguntado ao Dr. Lídio se Ronaldo tinha condições de jogar. Diante do sim de Lídio, Zagallo escalou o atacante, que era a principal estrela da Seleção Brasileira na ocasião.

Antes do sim dos médicos, Zagallo havia escalado Edmundo. A escalação das duas seleções com o nome de Edmundo chegou à tribuna de imprensa.

Em seguida, houve a mudança.

Saiu Edmundo e entrou Ronaldo.

Ronaldinho, como ele era chamado na época, foi para o gramado como um zumbi. Provocava vertigens em seus companheiros de seleção a cada lance que participava.

O responsável por marcar Zidane nos escanteios era exatamente Ronaldinho. Zonzo, Ronaldinho não fez a sua parte. Zidane começou a ser vigiado por Leonardo e depois por Dunga.

Não tomou conhecimento de nenhum dos dois e marcou dois dos três gols da seleção francesa.

Depois da partida, na entrevista coletiva, Zagallo começou a falar que em vários momentos percebeu que Ronaldo não estava bem e que pensou em substituí-lo.

Foi interrompido pela pergunta mais importante do dia, feita, brilhantemente, pelo repórter Mauro Leão, do jornal O Dia, do Rio de Janeiro.

“Então porque você o escalou, Zagallo?”.

Zagallo ficou furioso com a pergunta e exigiu respeito. Em seguida, saiu da sala de entrevistas.

Mauro Leão conta que a partir da pergunta começou a ser perseguido por seguranças da Fifa. Só não foi colocado para fora aos safanões porque ficou abaixado, ele é um sujeito alto, para não ser visto pelos grandalhões.

Eu fui escalado para ficar em outro lugar do estádio e não fui para a entrevista coletiva.

Se fosse, teria feito a pergunta providencial feita por Mauro Leão.

Quando retornei ao Brasil, parentes perguntaram se era minha a voz que ouviram interpelando Zagallo.

Não, infelizmente não era.

Com Ronaldo em boas condições, talvez o jogo pudesse ter sido mais equilibrado.

Digo talvez porque, repito, o rendimento da Seleção Brasileira não foi nada animador na copa.

Pelo menos não para mim.

Houve muitos erros durante a fase de preparação, no Brasil e na França.

Tetracampeão em 1994, o Brasil foi para a Copa da França certo de que era o melhor. Zagallo, que havia sido o coordenador técnico, assistente de Carlos Alberto Parreira, no mundial dos Estados Unidos quatro anos antes, já dava sinais de que estava ultrapassado.

A CBF era presidida por Ricardo Teixeira, acusado de várias falcatruas tempos depois e que, hoje, se colocar os pés fora do Brasil será preso.

Houve até uma CPI para discutir a convulsão de Ronaldo e a acusação de que a copa teria sido vendida para a França, com a interferência da Nike.

Nada ficou provado.

O que é fato é que o Brasil foi campeão (penta) quatro anos depois, em 2002, sob o comando de Luiz Felipe Scolari, no mundial da Coréia do Sul e do Japão.

Vale lembrar que a Copa de 2002 foi pródiga em erros de arbitragens. O Brasil foi favorecido na vitória sobre a Bélgica, que teve um gol de cabeça anulado equivocamente, e com um pênalti em Luisão contra a Turquia, em que o atacante foi puxado, sim, mas fora da área.

Enquanto o Brasil era ajudado, grandes seleções, como Espanha e Itália, foram prejudicadas por erros de arbitragem.

Pois é...

Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.

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