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Foto do escritorFutebol em Rede

No tempo da Garrinha

Nos preparativos da Seleção Brasileira para a Copa do México, em 1986, houve dois amistosos na Europa. O Brasil perdeu por 2 x 0 para a Alemanha Ocidental, ainda não tinha caído o Muro de Berlim, e convivíamos com duas Alemanhas. O jogo foi em Frankfurt no dia 12 de março. O segundo jogo foi na linda Budapeste contra a Hungria no dia 16 de março e perdemos por 3 x 0.

Telê Santana estava arrumando o time para jogar a Copa. Na Alemanha jogou com Carlos: Edson, Oscar, Mozer e Dida; Falcão, Sócrates e Casagrande: Müller (Marinho), Careca e Sidney (Eder). Contra a Hungria colocou em campo: Leão; Edson, Oscar, Mozer e Dida; Elzo, Alemão e Silas; Renato Gaúcho, Casagrande e Sidney (Müller). O time não jogou bem e deixou sérias dúvidas para o treinador.

Eu estava lá cobrindo pela Rádio Record ao lado de Oswaldo Maciel, que já quebrava tudo naquela época, e os já saudosos  mestre Loureiro Júnior e o técnico Antonio Jurca. Fomos por Frankfurt e voltamos por Paris. Essa foto mostra bem como eram as transmissões em 1986 e se analisarmos não faz tanto tempo assim para comparar com a evolução digital do mundo de hoje. Para se ter uma ideia na cobertura do Mundial do Japão, em 2011 e 2012, com Santos e Corinthians, respectivamente, eu tinha um aparelho que fazia contato com a Central da Rádio Jovem Pan e falava de qualquer lugar.

A foto mostra Antonio Jurca fazendo contato com o Brasil direto do quarto de hotel na Hungria. Ainda existia o bloco soviético e para se conseguir uma ligação era preciso falar com a telefonista e esperar mais ou menos umas duas horas para completar e quando isso acontecia tinha que torcer para não cair. Se caísse era mais um tempão para ligar de novo. A gente tirava o bocal do telefone e botava duas garrinhas para amplificar o som conectando a maleta que tinha microfones. O deley era muito grande.

Falar isso hoje para a garotada soa como coisa que nunca existiu. A transmissão de Frankfurt foi normal, mas em Budapeste tivemos problemas. Não fechava o contato com o Brasil. De repente veio um técnico da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, e disse que a Record confirmava que nos escutava aqui, em São Paulo, mas que não conseguia falar conosco. Resultado: Pediu para o Maciel contar até 50 e mandar pau na transmissão. Conclusão: Só nós, Maciel, Loureiro, o Jurca e eu é que nos ouvíamos durante o jogo. Do Brasil não tinha contato, mas estava no ar. No dia seguinte ficamos sabendo que foi tudo normal.

Muitas coisas aconteceram naquela viagem. Em Budapeste quando Sócrates ficou sabendo que não jogaria contra a Hungria, subiu para o nosso quarto a convite do seu dileto amigo Loureiro Junior e beberam juntos quase toda a cerveja do Hotel. Na época também tinha disso. Ficávamos no mesmo Hotel da Seleção e o Rádio ia onde a bola rolava. Quando a noite chegou, o Doutor tomou duas garrafas de dois litros de Coca-Cola. E eu muito ingênuo e bebedor fraco, achei que ele estava louco: “Sócrates, você só tomou cerveja e agora vai de Coca-Cola?”. Aí o médico entrou em campo: “É para baixar o álcool e enganar o seu Telê no jantar”. Não sei se enganou, mas sei que ele tentou.

Outra coisa foi o falecido Reali Júnior, que estava pela Jovem Pan, e que resolveu comprar um vinho de boa qualidade no Aeroporto de Budapeste. Comprou várias garrafas. Quando desembarcou, em Paris, os fiscais quiseram tomar o vinho dizendo que não podia entrar com aquilo no país.

Reali ficou furioso: “Ah, é? Não posso?” e imediatamente quebrou as garrafas. Foi um cheiro de vinho bom que nos embebedava em pleno Aeroporto e ele afirmava em francês, é claro: “Não vou tomar, mas vocês também não vão”. Nunca vi o calmo e cordato Reali tão bravo como naquele dia.Trabalhei com ele depois na Jovem Pan. Foi uma das melhores pessoas e dos melhores professores que tive na vida.

Outra coisa engraçada, mas que poderia terminar mal, foi no embarque em Budapeste. Loureiro Junior já na escada do avião olha para baixo e me pergunta: “Olha, aquelas malas lá embaixo do avião. Não se parecem com as nossas?” Não só se pareciam, como eram as nossas. Não sei se foi só com a nossa equipe, mas para embarcar as malas era necessário identifica-las pessoalmente e foi o que fizemos. Quase que  nós viemos e as malas ficaram.

Coisas do Futebol, histórias da Vida e de Vida.

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