top of page
Foto do escritorFutebol em Rede

O Edson fracassou quando o Pelé mais precisou dele


O Pelé nunca foi tão Edson como no final de sua vida. Quando o Pelé mais precisou do Edson, o Edson se escondeu, deixou-se levar pelo esmorecimento, pelo desânimo, pela falta de vontade de viver.

O Edson não teve forças para lutar contra os problemas normais que chegam com a velhice.

Fracassou.

O Edson foi derrotado pela depressão.

Explico melhor: Edson Arantes do Nascimento não começou a morrer quando o câncer em seu cólon foi descoberto em exame de rotina no Hospital Albert Einstein.

O cidadão Edson Arantes do Nascimento começou a dar adeus à vida ao descobrir que não poderia mais andar com as suas próprias pernas.

Os problemas que o levariam à morte no dia 29 de dezembro deram os primeiros sinais em 2011, ano em que ele fez a primeira cirurgia no quadril.

A cirurgia, realizada pelo ortopedista Roberto Dantas, no mesmo Hospital Albert Einstein onde acabou morrendo, teria sido mal sucedida, segundo avaliação do próprio Pelé.

Na época, conversei com o Dr. Roberto Dantas, que garantiu que não havia nenhum problema com a cirurgia.

Depois da acusação de erro médico feita por Pelé, o Cremesp – Conselho Regional de medicina do Estado de São Paulo -, deu o parecer de que não houve erro médico.

Fiz a matéria para o UOL Esportes.

Pelé foi aos Estados Unidos e fez uma nova cirurgia no quadril.

Não resolveu.

Continuou com muitas dores ao caminhar.

Na entrevista que fiz com o Dr. Roberto Dantas, ele me disse que os problemas do Pelé não se resumiam ao quadril.

“O Pelé tem problemas também nos joelhos e na coluna. Ele deveria ter feito uma cirurgia na coluna antes de operar o quadril. Só que os inúmeros compromissos comerciais que ele tinha impediram que a cirurgia de coluna fosse feita”, contou o médico, revelando também que Pelé tinha problemas também no coração.

Nesta época, Pelé fazia fisioterapia sob a orientação de sua filha, Flávia Kurts.

Luiz Alberto Rosan, fisioterapeuta que era responsável pelo Departamento de Fisioterapia do Santos, colocou a estrutura do clube à disposição de Pelé.

Mas Pelé preferiu continuar fazendo a fisioterapia com a filha Flávia.

Certamente porque ele sabia que no Santos seria cobrado para fazer as sessões de fisioterapia regularmente.

O fato é que começou a ser visto cada vez com mais frequência tendo de usar muletas ou cadeira de rodas para se locomover.

Foi em uma cadeira de rodas que ele apareceu no documentário Nascimento de uma lenda, produzido pela Netflix.

Não demorou para que os comentários de que ele estava deprimido por causa das dificuldades de locomoção começassem a surgir.

O filho dele, Edinho, ex-goleiro do Santos e atualmente técnico do Londrina, disse em entrevista que o pai estava “com depressão” por não poder mais andar.

Pepito Fornos, seu assessor de imprensa na época, disse para este repórter que Pelé se recusava a se submeter às sessões de fisioterapia.

Segundo Pepito, que deixou o cargo pouco antes de Pelé ser internado dia 29 de novembro, quando alguma pessoa da família ou mesmo algum amigo dizia para Pelé fazer a fisioterapia, ele respondia que não iria mais fazer as sessões de fisioterapia e “sabia o que estava fazendo”.

O Edson prevaleceu.

Pois que, se dependesse do Pelé, acostumado a vencer batalhas, a se submeter aos maiores esforços, a se esmerar para ser sempre o melhor durante maravilhosa carreira de jogador de futebol, os exercícios de fisioterapia seriam feitos normalmente.

A musculatura de atleta definhou.

Pelé foi o primeiro a perceber.

“Vejo com tristeza que as minhas coxas estão finas”, afirmou ele, em uma de suas últimas entrevistas.

“E também me sinto fraco”, completou ele, triste.

Em cadeira de rodas, o único contato de Pelé com os fãs passou a ser pelas mídias sociais.

As mensagens, claro, eram escritas pela sua assessoria de imprensa.

O que veio depois é de conhecimento público.

Foi diagnosticado com um câncer no cólon. Seu atestado de óbito informa que Pelé morreu vítima de “insuficiência renal, insuficiência cardíaca, broncopneumonia e adenocarcinoma de cólon”.

A depressão não foi constatada.

Normal que não tenha sido, pois que a depressão é como se fosse uma doença da alma.

Vaidoso como era, o cidadão Edson Arantes do Nascimento preferiu morrer a se expor por aí sobre uma cadeira de rodas.

Afinal, isso não fica nada bem para o Rei do Futebol, o Atleta do Século.

Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.

Comments


bottom of page