Por causa de Rogério Ceni lembrei de Mário Prata. Lembrei mesmo. Depois da derrota para o Vasco da Gama, 3 x 1, o técnico do Flamengo soltou a frase: "O gol cedo atrapalhou bastante". O gol cedo atrapalhou, o segundo do Vasco aos 27 minutos também e o terceiro no segundo tempo então atrapalhou mais ainda. Atrapalhou também só fazer um golzinho aos 47 do segundo tempo, não e Rogério?
São aquelas frases soltas que não explicam, nem justificam nada. É igual aquela: "fizemos o gol muito cedo e o adversário veio pra cima da gente e virou". O Palmeiras poderia dizer isso no meio de semana contra o Defensa y Justicia. Que bobagem. Gol é gol em qualquer hora. Teve chance faz, teve chance de não tomar, não toma e continua jogando. É o que se espera de grandes times. Outra frase é aquele que 2 x 0 é placar perigoso. Perigoso para quem, cara pálida? Para quem está perdendo, não é?
Por isso lembrei do grande escritor Mário Prata. Na Copa América, de 1995, no Uruguai, ficamos no mesmo hotel, em Montevidéu, e conversávamos quase todos os dias. Eu pela Jovem Pan e ele fazia crônicas especiais sobre o evento para o Estado de São Paulo/Jornal da Tarde. Escreve como poucos e tem uma perspicácia invejável. Contava histórias saborosas. Não digo que ficamos amigos, mas tivemos boa convivência. Depois cada um na vida seguiu seu rumo, mas guardo com carinho aqueles momentos.
Um dia ele contou a história que viveu, em Portugal, para onde se mudou por um tempo e explicou porque veio embora. Se não esqueci, ou aumentei, alguns detalhes da história, o caso foi esse. Prata sempre gostou muito de futebol e estava vendo pela televisão um jogo Porto x PSG, em Paris. Começou o jogo e dois jogadores do time francês foram expulsos. Mas o time português não se aproveitou da vantagem numérica e acabou ficando no 0 x 0.
Na coletiva, um repórter pergunta para Arthur Jorge porque seu time não se aproveitou da vantagem de ter 11 contra 9 desde o começo do jogo. A resposta foi lapidar: "Não estávamos preparados para enfrentar uma equipe com apenas 9 jogadores". Quando ouviu isso, Mário Prata se levantou do sofá e arrumou as malas para voltar ao Brasil. Chegou para ele. O que ele diria agora sobre a frase de Rogério Ceni? Para onde iria? Será que voltaria correndo para Portugal?
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