“O Rogério Ceni não é respeitado, ele é temido”. Quem disse essa frase para mim foi um diretor do São Paulo, na época em que Rogério era goleiro e líder do Tricolor.
Líder, que sempre foi.
No elenco do São Paulo, nos anos das décadas de 1990 e 2000, marcantes na carreira do ex-goleiro, o camisa 01, era chamado de mito pelos torcedores.
E de presidente pelos seus companheiros de equipe.
Terminou a carreira com a imagem de líder intacta.
Pelo menos para quem acompanhava do lado de fora o que acontecia no CT da Barra Funda e do Morumbi.
Já foi dito que a imprensa esportiva não sabe cinco por cento do que acontece do lado de dentro dos vestiários e nos treinamentos de um clube de futebol.
Rogério Ceni sempre foi tido como uma pessoa que fugia das brincadeiras com os demais jogadores.
Preferia ficar em seu quarto nas concentrações.
Era para os seus aposentos que ia após as refeições, enquanto grande parte do elenco, ou a maioria dele, ficava batendo papo, nas famosas resenhas, que os goleiros tanto gostam.
Após pendurar as luvas, e virar técnico, Rogério Ceni não mudou o comportamento.
Até porque ninguém muda o comportamento assim, em um passe de mágica.
Como comandante do grupo de jogadores, Rogério Ceni seguiu sendo uma pessoa sem nenhum carisma.
Detesta brincadeiras, quer se impor apenas pelo trabalho.
Não pensa duas vezes para criticar seus comandados, publicamente, nas entrevistas coletivas, como fez dezenas de vezes nesta sua curta carreira de treinador, ou até mesmo nas raras conversas reservadas que tem com os seus atletas.
Quando encerrou a carreira de jogador de futebol, Rogério Ceni disse ao seu assessor de imprensa na ocasião, que havia abraçado a carreira de técnico para trabalhar na Europa.
“Eu vou ser o melhor técnico do mundo. Quero vencer no Brasil e na Europa”, afirmou.
Quem trabalha com ele, seja jogador ou auxiliar, afirma que é um técnico competente. Que nunca repete um treinamento durante a semana.
Estudioso e detalhista, tem sempre no computador um treino novo para cada dia da semana.
Chega cedo ao centro de treinamento.
E é sempre o último a ir embora.
Como técnico, trabalhou até agora no São Paulo e no Fortaleza (duas vezes), Cruzeiro e Flamengo.
Nesta quarta-feira, 19/4, foi demitido pelo São Paulo, em sua segunda passagem pelo Tricolor. Problemas de relacionamento com os jogadores (especialmente com o atacante Marcos Paulo), teriam sido os motivos para a demissão.
A diretoria também não gostou das críticas que o seu ex-goleiro fazia constantemente sobre a estrutura do clube, considerada ultrapassada pelo ídolo.
Considerado arrogante em todos os clubes em que trabalhou como técnico, no Flamengo vazou um áudio em que um funcionário fazia duras críticas ao seu modo de tratar as pessoas, o 01, mais uma vez, sai sem conseguir marcar seu nome como técnico.
Quando era jogador, tinha fama de arrogante até na Seleção Brasileira, onde, também não conseguiu brilhar como goleiro.
Determinado, detalhista, estudioso como treinador, passou da hora de Rogério Ceni rever seu jeito de trabalhar em grupo.
E de tratar as pessoas.
Inteligente como é, Rogério Ceni bem que poderia procurar a ajuda de um profissional da psicologia.
Nada que alguns anos de sessões de análise não possam resolver.
Afinal, não é Freud que explica tudo?
Wladimir Miranda cobriu duas copas do mundo (90 e 98). Trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, Diário Popular, Jornal da Tarde, Diário do Comércio e também na Agência Estado. Iniciou no jornalismo na Rádio Gazeta. Trabalhou também na TVS, atual SBT. Escreveu dois livros,de grande aceitação no mercado editorial: O artilheiro indomável, as incríveis histórias de Serginho Chulapa e Esconderijos do futebol.
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