O torcedor está impaciente. E eu não me refiro somente ao do Grêmio/RS, que após a derrota deste domingo protagonizou as lamentáveis e injustificáveis cenas de vandalismo no gramado da arena de seu próprio clube. Eu me refiro a quase todos os torcedores que, com raríssimas exceções, atingem aos mais absurdos patamares da insanidade quando seus times passam três, duas ou às vezes até mesmo uma partida sem vencer. Exemplos são muitos. Podemos lembrar as pichações nos muros da Arena Palestra Itália quando o Palmeiras completou sete jogos seguidos sem ganhar – e isso mesmo tendo, no mesmo período, obtido uma improvável classificação à final da Libertadores. Ou então as ofensas pessoais da galera flamenguista ao técnico Renato Gaúcho no meio da semana passada, quando o Atlético/PR surpreendeu a todos e eliminou o clube carioca na Copa do Brasil. Ou, ainda, as ameaças de morte recebidas pelo volante Jean Mota, do Santos, após ter cometido um pênalti e ser expulso na derrota de sua equipe para o América/MG. Isso sem que citemos outro caso de um atleta santista, Diego Tardelli, que teve seu carro cercado e quase apedrejado após uma derrota do Peixe – detalhe: o centroavante estreara naquela partida... Oriundo das arquibancadas, onde tomei muito sol e muita chuva, passei calores horrendos e frios homéricos e perdi a voz incontáveis vezes durante minha adolescência, entendo a cega paixão que move o torcedor. Na minha época, meu time – que todos vocês sabem qual foi, é e sempre será – vivia fases terríveis, nas quais derrotas eram tão corriqueiras quanto hoje são as vitórias. Mas nunca, jamais e sob hipótese alguma vandalizei o patrimônio do meu clube e nem de outro qualquer, agredi um atleta pelo qual torcia ou não torcia ou mesmo saí na mão com um torcedor adversário. Deve-se levar em consideração, também, o momento por que passa o País. As brigas políticas, a crise econômica, a perseguição (ou, como se diz atualmente, o “cancelamento”) a alguém que não pensa como muitos acham que ele deveria pensar, e até mesmo o isolamento físico e psicológico imposto pela pandemia são ingredientes que contribuem para a anarquia que temos visto por aí. Mas nada disso justifica a postura que a galera, justamente agora, quando começa a voltar aos estádios, tem adotado. Na verdade, meus amigos, existe um outro fator que influencia ações como as que temos visto ultimamente: o berço. Ou a falta dele.
Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 15 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br
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