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A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER


O futebol imita a arte.


E não me refiro, apenas, às jogadas sensacionais, aos gols inesquecíveis, às defesas milagrosas ou aos títulos gloriosos e eternos. Às vezes, até mesmo a literatura internacional pode se fazer presente nos campos de bola, ainda que nenhum dos personagens sequer se dê conta disso.


Um bom exemplo disso estamos vendo no Campeonato Paulista deste ano, que viverá no próximo domingo sua última partida. A presença do inexpressivo, porém competente, Água Santa na grande decisão já era, por si só, uma das maiores surpresas, ou até mesmo a maior surpresa de toda a história da competição. Encarar de igual para igual e, muitas vezes, em vários momentos do primeiro jogo até mesmo se sobrepor ao Palmeiras e todo o gigantismo que representa o maior campeão do País, então, poderia ser considerado um absurdo. Vencer o famoso adversário, por fim, só se acontecesse um milagre.


Pois é: a humilde agremiação de Diadema/SP garantiu sua presença nas finais, ombreou-se ao Verdão durante todo o confronto, foi-lhe superior em muitos momentos e o venceu – e com todos os méritos. Ou seja: tudo o que no parágrafo acima foi descrito como improvável e até mesmo impossível aconteceu. As respostas para que isso tenha se dado são várias, mas podem ser resumidas a duas – de um lado, a equivocada (mas esperada) arrogância dos jogadores palmeirenses, que sequer imaginavam a possibilidade de ser derrotados; do outro, a inteligência do treinador e dos atletas do time periférico, que perceberam a brecha aberta e souberam muito bem aproveitá-la.


Claro que o campeonato ainda não foi decidido e que o alviverde têm toda a condição de, atuando em seu estádio, reverter o placar e, talvez até mesmo com facilidade, já que a diferença técnica entre ambos os times chega a ser abismal, garantir aquele que será o 25ª título estadual de sua gloriosa história. Mas, para tanto, deverá o atual campeão brasileiro se ater a um fato essencial, e aqui chego à explicação do título desta coluna.


A obra “A Insustentável Leveza do Ser” nos conta a história de um cirurgião que vive em Praga, capital da antiga Tchecoslováquia, e que em 1968 opta por uma vida de liberdade sexual a fim de obter a felicidade plena. Para tanto, abre mão de princípios e vive, livre, todas as suas aventuras e experiências. Afinal, ao escolher este modelo de vida, não tem nada a perder. O mesmo se aplica ao Água Santa: ser vice-campeão paulista já será o marco mais importante não desde sua fundação, mas com certeza até o fim de seus dias.


Ou seja: a equipe que até pouco tempo atrás disputava somente campeonatos varzeanos, jogará livre, leve e solta. E, se o Palmeiras não abrir os olhos, poderá vê-la atingir os mesmos objetivos alcançados pelo personagem principal da obra prima escrita pelo escritor tcheco naturalizado francês Milan Kundera, publicada em 1984.


­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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