O Palmeiras não tem Mundial. O Palmeiras é o primeiro campeão mundial.
As frases acima espelham com exatidão a polêmica que envolve o assunto: de um lado, os palmeirenses – que nesta semana viajarão até os Emirados Árabes Unidos para a disputa de mais um Campeonato Mundial - enchem o peito de orgulho e afirmam que a Copa Rio foi, sim, a primeira competição interclubes do planeta; do outro, os torcedores de todas as demais equipes garantem que isso nem de longe é verdade. Antes, porém, de me posicionar sobre o tema, creio que vale um breve relato histórico.
22 de julho de 1951. Exatamente um ano e sete dias após a maior tragédia de toda a história do futebol brasileiro lá estava ele novamente, no mesmo palco de 372 dias antes, a tentar provar a todos mas, principalmente, a si mesmo, que era o maior do mundo. Daquela vez, porém, as camisas brancas tornaram-se verdes. Eram as do Palmeiras.
A tragédia de 16 de julho de 1950 não estava – e talvez jamais venha a estar - totalmente digerida pela torcida canarinho. Desta forma, a CBD resolveu, com apoio e aval da FIFA, realizar um torneio que reunisse, no Brasil, oito das maiores equipes do mundo. Como não tínhamos então uma competição que definisse os melhores times do País, a entidade escolheu os dois melhores times nacionais da época, ou seja, os campeões dos dois estados mais bem desenvolvidos no que se referia a futebol – São Paulo e Guanabara. Com isso, foram chamados o Vasco da Gama e o Palmeiras. As outras equipes convidadas vieram de seis países: Juventus, da Itália; Sporting, de Portugal; Nacional, do Uruguai; Estrela Vermelha, da Iugoslávia; Olympique de Nice, da França; e Áustria Viena, evidentemente do país europeu do mesmo nome.
Após uma Primeira Fase em que venceu dois e perdeu um dos três jogos, o Verdão se classificou às semifinais diante do clube de São Januário, então o melhor time da América do Sul, vencendo-o por 2 a 1 no primeiro jogo e empatando o segundo por 0 a 0, ambos no Maracanã. Já nas finais, diante da Juventus/ITA, uma vitória por 1 a 0 e um empate por 2 a 2, também no Estádio Mário Filho, lhe garantiram a taça.
A luta palmeirense pelo reconhecimento do título da Copa Rio de 1951 começou somente 50 anos depois, quando a diretoria produziu um dossiê e o enviou à FIFA solicitando que o torneio fosse considerado o primeiro Mundial de Clubes. A entidade máxima do futebol demorou sete anos até responder positivamente, por meio de um fax enviado em 2008 pelo seu então secretário-geral, Urs Linsi, ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mas protelou o anúncio oficial devido a pressões internas e, principalmente, à vaidade do então presidente da entidade, Joseph Blatter, que se sentiu desprestigiado por não ter sido ele a assinar o documento. Por isso, apenas em 2014 a conquista foi, de fato, admitida pela FIFA, com Blatter chancelando a Copa Rio.
No site da entidade, no entanto, o Verdão aparece como “primeiro campeão global”, já que para a entidade apenas os vencedores de 2000 e a partir de 2010 são “campeões mundiais”. Justamente por isso, a FIFA arrumou um jeito de acabar – ou pelo menos de tentar acabar – com a briga. Desde 2014, dividiu os vencedores destas competições em três blocos. Assim, surgiram o campeão global, os campeões intercontinentais e os campeões mundiais.
Para a entidade, campeão global é apenas o Palmeiras, desta forma qualificado pela entidade por ter vencido a Copa Rio de 1951 e, nela ter enfrentado equipes de dois continentes – América do Sul e Europa. Campeões intercontinentais são todos os times que ganharam os confrontos entre os vencedores sul-americanos e europeus, tenham eles sido decididos em duas ou em apenas uma partida. Por fim, campeãs mundiais são as equipes que disputaram os torneios organizados pela FIFA e que contaram com representantes de todos os continentes – o do ano de 2000 (Corinthians) e todos a partir de 2005.
Para este jornalista e historiador, tudo não passa de uma mera questão de nomenclatura. O Palmeiras tem, sim, um título mundial, assim como o Santos tem dois mundiais (e não dois intercontinentais) ou o São Paulo, três (e não apenas um).
E quem afirmar o contrário apenas negará a veracidade da história.
Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 33 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br
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