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EM 1984

Onde você estava – e o que fazia – há exatos 39 anos?


Eu, por exemplo, caminhava célere para o meu 16º aniversário. Trabalhava como office boy, profissão hoje substituída pela de moto boy, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30, em uma editora, a Meio & Mensagem, que ficava em Perdizes, e à noite estudava em uma escola pública do bairro do Sumarezinho, Zona Oeste de São Paulo/SP, onde cursava o 2º colegial, hoje conhecido como 2º ano do Ensino Médio. Namorava a Goretti, mas a relação durou pouco porque, num domingo, deixei de ir à sua festa de debutante para ver um jogo do Palmeiras no Palestra. Tomei um pé. Foi merecido. Mas doeu. E muito.


Eu sofria pressões? Claro que sim. Do meu pai, que exigia 30% do meu salário (que era mínimo) para ajudar nas despesas da casa; da minha mãe, que fechava a cara cada vez que eu aparecia com uma namoradinha nova (o ciúme que a Dona Augusta sentia do seu caçula era algo impressionante...); das minhas três irmãs, sempre muito preocupadas com os perigos da época (leiam-se drogas e AIDS); dos meus cunhados, chatos de galocha que me enchiam o saco por qualquer coisa; mas principalmente de mim mesmo.


É verdade: ninguém me pressionava mais do que eu. Profissionalmente já tinha, claro, decidido o que iria fazer da vida, pois o Jornalismo Esportivo era o combustível diário que fazia correr mais rápido o sangue em minhas veias e bater mais acelerado o meu coração (e pensar que hoje, quando isso acontece, tenho logo de tomar meu remédio...). Mas, para um dia segurar um microfone, aparecer na TV ou escrever uma matéria, teria der estudar muito para entrar numa faculdade que eu pudesse pagar, já que as públicas eram – e seguem sendo – apenas para os filhos dos ricos, e eu era filho de um pobre (ou, como o Sr. João preferia dizer, de um “remediado”). Depois, teria de conseguir um estágio e, em seguida, um emprego em algum órgão de Imprensa. Meu futuro estava desenhado, mas nem de longe estava definido. Muita coisa poderia dar certo, mas outras tantas poderiam dar errado. Eram estas que me angustiavam.


Isso sem falar, claro, das pressões pessoais e afetivas. Eu queria porque queria encontrar um grande amor. Mas, convenhamos, conseguir isso aos 16 é quase impossível. Daí que sofri o diabo até que conhecesse, quatro anos depois, uma menina que lembrava a Lídia Brondi e que, acreditem, tornou-se minha esposa, “função” que desempenha já há quase três décadas. Acabou que tudo deu certo – a faculdade, o estágio, o emprego, a carreira, a menina. Poderia ter sido mais legal? É óbvio. Mas como ainda há o que vir, sempre acredito que virá o melhor. Tudo tem a sua hora exata, a gente é que sempre pensa que sabe quando ela chega – só que não sabe, não.

Por tudo isso, Endrick, siga um conselho deste velho de quase 55 anos: não faça o que eu fiz. Não se cobre tanto, não se pressione tanto. Tudo vai dar certo. Mas só quando tiver de dar.

­­­­­­­­­Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br



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