O castigo vem a cavalo.
Não faz nem dois meses que o técnico Lisca, conhecido
pelo apelido de “doido”, abandonou o Sport do Recife/PE de uma hora para a outra e aceitou uma proposta do Santos/SP para, segundo se apurou na época, classificar a equipe à próxima edição da Copa Libertadores da América ou, em outras palavras, terminar este Brasileirão pelo menos em 6º lugar.
Na ocasião, discordei de sua decisão, pois para mim contratos devem ser cumpridos até o fim e o time pernambucano, embora nem possa ser comparado ao Peixe, foi desrespeitado pelo treinador. Mas o brilho nos olhos de Lisca em sua primeira entrevista na condição de técnico santista me fizeram, confesso, aumentar minha simpatia. Estava ali um profissional que realizava um sonho: comandar uma das maiores equipes do País e, sem dúvida alguma, uma das mais famosas do mundo.
Ocorre, porém, que o técnico ainda mantém uma boa dose de ingenuidade na forma de gerir sua carreira. Se não tivesse se deixado levar pelas brancas camisas santistas e se permitido seduzir pela riquíssima história que elas construíram, talvez percebesse que o atual presidente do clube, Andres Rueda, embora excelente no quesito administração, não entende patavinas de futebol. Se entendesse, não teria contratado treinadores como Fábio Carille ou Fabián Bustos, ou vários jogadores que, de tão ruins, nem merecem ter seus nomes lembrados em respeito a tantos craques que os precederam. Ou seja: estava mais do que na cara que bastariam três ou quatro maus resultados para que Lisca se tornasse mais um desempregado neste País de tantos outros desempregados.
Os números do “Doido” não foram bons, é fato: duas vitórias, três empates e três derrotas nos oito jogos em que comandou o time. Mas seu aproveitamento – 37,5% - não é tão pior do que o obtido até aqui pelo Santos neste Campeonato Brasileiro – 43,5%. Além disso, faltando 12 partidas para o término da competição, o Peixe está exatamente no meio da tabela (é o 10º colocado, com 34 pontos) e, se está um tanto quanto longe do G-6 (9 pontos, para ser exato), também não corre sérios riscos de entrar no Z4, pois soma 8 pontos a mais do que o 17º colocado. Sei que estes números são ridículos perante a história da equipe, mas espelham fielmente o que vem sendo, hoje e já há algum tempo, a equipe de Vila Belmiro.
Assim, parece claro que a principal razão para que Rueda demitisse Lisca é a sua certeza de que, caso não agisse, o time despencaria na tabela, pois seus próximos quatro jogos realmente serão complicados: Palmeiras, Atlético/PR, Internacional/RS e Atlético/MG, sendo que diante de Verdão e Colorado o desafio será fora de casa. Em nota oficial explicativa sobre a demissão, o presidente santista disse que preferia “errar pela ação do que por omissão”. Mas aí, pergunto: com o novo treinador, seja ele quem vier a ser, será que ele irá acertar? Ou continuará errando, e errando, e errando...?
Abri esta coluna com um antigo ditado popular, já que o treinador recebeu de volta, e rapidamente, o que fez à sua equipe anterior. E a fecharei com outro velhíssimo adágio: ao acreditar em Andres Rueda, Lisca provou que, além de “doido”, para ser burro só lhe faltam mesmo as penas.
Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br
Comentarios