No último fim de semana, o Brasil deveria ter ficado de luto.
Não, não morreu nenhum ator, cantor ou atleta famoso. O que morreu foi o futebol brasileiro – um pouquinho só, graças a Deus, mas ainda assim, morreu. Nas cidades de Recife/PE e Fortaleza/CE, alguns vândalos que infestam nossas arquibancadas e que se travestem de torcedores de Sport e Ceará protagonizaram mais uma triste página do nosso esporte mais querido.
Prefiro me ater aqui não ao resultado de ambas as ações, pois este tenho certeza de que você, caríssimo internauta, já viu e reviu. Por isso, o que se torna essencial é entender os motivos que suscitaram tais atos de violência. E antes que se pense que os maus resultados obtidos por ambas as equipes sejam a resposta, é bom deixar bem claro que nada, absolutamente nada, nem a provável perda de um título ou de uma classificação, nem um possível rebaixamento à divisão inferior justificam o que todos nós assistimos.
O infeliz do centroavante do Vasco da Gama (nem vou citar seu nome, de tão inexpressivo que ele é), provocou ao comemorar seu gol diante da galera adversária? Sim. Mas isso explica a invasão do gramado e a agressão com chutes a uma integrante do Corpo de Bombeiros? O empate diante do Cuiabá foi um balde de água gelada na cabeça da torcida do Vozão? Sim. Mas isso justifica cerca de 20 marginais cercarem e ameaçarem o zagueiro Luiz Otávio a ponto de levar um gigante de 1,90 m às lágrimas, num choro compulsivo mais de vergonha e impotência do que de medo? O que fez com que os vagabundos que se dizem torcedores de Sport e Ceará agissem como agiram é a absoluta certeza da impunidade.
É possível que os clubes sejam punidos com perda de mandos de campo, proibição de venda de ingressos em algumas partidas ou então financeiramente. Mas os verdadeiros criminosos, ainda que muitos deles possam ser facilmente identificáveis, nada sofrerão. E, pior ainda, poderão comparecer normalmente em jogos futuros e, se lhes der na telha, provocar atos de vandalismo e colocar em risco a integridade física ou mesmo até a vida de jogadores e torcedores, muitos destes ainda crianças.
Um antigo ditado popular garante que, no Brasil, só vai preso quem é “P”: pobre, preto ou puta. Pode até ser que, hoje, não seja mais exatamente assim, mas com certeza pelo menos continua sendo mais ou menos assim. Somos o País do Futebol, mas também da impunidade. Aqui, roubar faz parte do cotidiano (políticos que o digam, pois o fazem desde 1500), a famosa “Lei de Gérson” é adotada como se fosse um patrimônio nacional e a certeza de que “tudo vai acabar em pizza” é total, até porque acaba mesmo. Diante de tal quadro, como poderia a maior das nossas paixões ficar imune a toda esta podridão?
É também para acabar com tudo isso que a cada dia luto mais pelo futebol: para que um dia não exista mais luto no futebol.
Márcio Trevisan é jornalista esportivo há 34 anos. Escritor com cinco livros publicados, começou no extinto jornal A Gazeta Esportiva, onde atuou por 12 anos. Editou várias revistas, esteve à frente de vários sites, fez parte de mesas redondas na TV e foi assessor de Imprensa da S. E. Palmeiras e do SAFESP. Há 17 anos iniciou suas atividades como Apresentador, Mestre de Cerimônias e Celebrante, tendo mais de 450 eventos em seu currículo. Hoje, mantém os sites www.senhorpalmeiras.com.br e www.marciotrevisan.com.br. Contatos diretos com o colunista podem ser feitos pelo endereço eletrônico apresentador@marciotrevisan.com.br
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